A Igreja católica é rica em tradições e em ritos, que nascem da vida de fé e das peculiaridades de determinados povos, ou do seio da Mater Eclesiae. A corte do Divino - ou corte imperial - é uma destas tradições, nascida de promessa de Santa Isabel de Portugal, mulher de fé e bondade inigualáveis. Santa Isabel de PortugalÉ conhecida como "o anjo de bondade e de paz enviado por Deus a Portugal", e é venerada por este povo como sua excelsa protetora, junto da padroeira Nossa Senhora da Imaculada Conceição, que foi escolhida como padroeira das terras lusitanas pela própria rainha, que lhe era profundamente devota. Foi Isabel que em 8 de dezembro de 1320 fez com que fosse celebrada pela primeira vez, a festa em honra à Imaculada Mãe de Deus, em uma época marcada pelo surgimento das disputas teológicas em favor da Conceição Imaculada de Maria. Curiosamente, Isabel não era portuguesa de nascença. Nasceu no ano de 1271, no reino de Aragão e de Constância na Sicília. Herdou o exemplo de santidade e bondade de sua tia-avó onomástica, Santa Isabel da Hungria e de seu pai Pedro III, e sendo assim, tornou-se uma nobre com alma devotada aos mais pobres e necessitados, sendo canal da providência em socorro aos desfavorecidos. Santa Isabel e o BrasilEmbora pareça longínqua a história de Santa Isabel, o legado da vida dela e de seu marido, Dom Diniz, refletiu no descobrimento e colonização do Brasil. Há de se lembrar que o reino português foi fundado por Dom Afonso Henriques - primeiro rei das terras lusas - que sentiu em seu coração o chamado de Jesus crucificado, quando ao patrulhar pelas terras ao sul da península ibérica viu ali exércitos árabes, para ser instrumento de Deus na extensão do cristianismo, fazendo com que a salvação chegasse a "povos estranhos". Por este motivo, desde o início do reino português existe uma íntima ligação entre a coroa e a Ordem dos Templários - ordem religiosa e ao mesmo tempo militar que viviam para levar a fé ao oriente, expandindo o catolicismo pelas terras natais de Jesus. Em certa época, os templários tiveram sua ordem extinta pela Igreja, e Dom Diniz pediu ao Santo Padre - atendendo à suplica de sua esposa, muito provavelmente - para que não extinguisse a ordem, por sua íntima ligação com o nascimento do reino português. Atendendo ao seu pedido, o Pontífice renomeou o grupo, que deixou de se chamar Ordem dos Templários e passou a ser a Ordem de Cristo, e os colocou sob responsabilidade de Portugal. Apesar de ter seu nome alterado, sua missão prosseguiu sendo a de expandir a fé - e doravante, também o império, como diz Camões -, e seguindo esta vocação missionária, promoveram com o apoio de cientistas, nobres e Dom Henrique "o infante", as navegações que culminaram na descoberta desta Terra de Santa Cruz. Desta forma, Santa Isabel está intimamente ligada ao gênesis da terra brasileira, além de ser uma das grandes responsáveis pela fé católica de nosso povo, que assim como o povo português, é protegido sob o manto da Virgem Imaculada, aqui honrada sob o título de Aparecida das águas. A cruz das desavençasMas como muitos santos, Isabel também provou do amargo fel do sofrimento e das tribulações, tendo de suportar a vida infame de seu marido após o nascimento de seus dois filhos, Constança e Afonso, sempre suportando e suplicando constantemente aos céus para a conversão do Rei. Mulher de paz, como era, sofreu com as inimizades entre seus parentes, que também eram governantes cristãos, e que por ambição, disputavam terras e honrarias entre si e acabavam por causar derramamento de sangue e dor a muitos dos seus súditos. A rainha chegou a impedir certos embates entre reinos que estavam prestes a ser instaurados, e lutava com toda a sua força espiritual e corporal, para que a paz reinasse nos reinos ibéricos. O seu próprio marido, Dom Diniz, tinha sérias desavenças com Dom Afonso - que era seu irmão - e com o monarca de Castela, Sancho IX, por conta das fronteiras entre os reinos de Portugal e de Castela. Posteriormente, o monarca de castela, Dom Fernando IV - que era genro de Isabel - e Dom Jaime II de Aragão - irmão da santa - nutriam entre si uma feroz inimizade que caminhava rumo ao enfrentamento atroz. Seu irmão, Rei Frederico da Sicília e o monarca Norberto de Nápoles já guerreavam entre si por razões políticas. Ali pode experimentar que a paz só seria possível se tratados e meras formalidades monárquicas fossem deixadas de lado, e se as almas dos governantes fossem santas e desejosas do amor e do bem, como a sua era. Conselhos de mãeCerta vez, seu filho Afonso se opôs ao pai, Dom Dinis - monarca por direito -, para tomar o trono de Portugal, e a coragem de Santa Isabel falou mais alto, chegando ela a montar em seu cavalo e ir ao campo de batalha, instantes antes que a batalha começasse, para suplicar ao seu filho, que se arrependesse de seu ato, conforme conta o relato publicado na Revista Arautos do Evangelho:
A corte pobreConta a tradição que tamanho foi o sofrimento experimentado por sua alma reta e abandonada em Deus por conta das guerras entre seus parentes e queridos, que a Rainha Isabel decidiu fazer uma promessa ao Divino Espírito Santo. A monarca pediu para que a Luz Divina iluminasse os seus corações, e que certa guerra não se instaurasse, pois acabaria por desestabilizar o reino e a vida dos seus súditos queridos. O milagre aconteceu! O Divino Espírito concedeu à Santa o objeto maior do desejo de sua alma: a paz. E para agradecer, conforme havia prometido, sairia com a corte pelas ruas, em época do festejo do Divino - tradição lusitana - e colocaria toda a realeza para participar da Santa Missa, durante todas as noites do cortejo, no dia de encerramento da festa, um dos jovens pobres e humildes seria coroado rei - não oficialmente, mas de forma simbólica. Assim se cumpriu a vontade da monarca, que após o falecimento de seu marido, passou a integrar a Ordem Terceira de São Francisco e abandonou as pompas da corte. No dia 4 de julho de 1336, enquanto intermediava uma ação de paz em Estremoz, veio Maria Santíssima buscá-la para a pátria definitiva, onde gozaria da glória eterna. Enquanto todos choravam a perda insuperável, ela se rejubilava por estar na iminência da posse definitiva do Deus a quem tão bem servira. Suas últimas palavras foram: “Maria, Mãe da graça, Mãe de misericórdia, protege-nos do inimigo e recebe-nos à hora da morte”. Era desejo seu ser enterrada em Coimbra, no convento de Santa Clara, fundado por ela. Tradição perpetuadaA promessa de Isabel tocou o coração de muitos, que iniciaram a tradição da Corte Imperial, ou corte do Divino, muito comum em comunidades católicas fundadas com base na cultura luso-açoriana. Hoje, 681 anos após sua morte, ainda existem comunidades que se dedicam a preservar a tradição da representação do cortejo da família real. O legado da santa monarca de Portugal é incomparável para a tradição religiosa portuguesa e brasileira, e permite que milhares de jovens católicos possam se sentir por um dia no Reino de Portugal dos séculos XII e XIII. Já na pátria divina, Isabel se rejubila de alegria por ver tantas pessoas empenhadas em perpetuar sua promessa, e nós, igreja militante nesta terra, engrandecemos a Deus pela memória e pelos feitos desta santa e querida pelo Senhor. Ouça o Hino de Santa Isabel, Rainha de Portugal: Fontes: (1) Memória de Santa Isabel, Rainha de Portugal - Padre Paulo Ricardo, disponível aqui. (2) Santa Isabel de Portugal: a rainha da bondade e da paz - Arautos do Evangelho, disponível aqui. (3) Festa do Divino: curiosidades - Portal São Francisco, disponível aqui. (4) Ouça a História de Santa Isabel de Portugal - Arautos do Evangelho, disponível aqui. Imagens da festa do Divino Espírito Santo e Sant'Ana de Mirim, retiradas do blog Mirim Ontem e Hoje. Vinícius de Carvalho Duarte - [email protected] | @vcdzimba
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